Na avenida

Foi naquele dia de inverno, naquela manhã escura e destruidora que a chuva omitia os teus passos na calçada.
Esta deslizava entre os cubos, unindo-nos a nós distantemente, e a tudo o resto, enquanto eu, em simultâneo andava entre as ruas altas e longínquas a bailar de guarda-chuva na mão, como se não chovesse, salpicava-me entre as possas de água, e que talvez em alguma delas absorvesse algum dos teus passos. Estou feliz, demasiado afortunada para uma manhã como esta, ando à procura do teu perfume, dos anúncios de amor afixados nas paredes. Mas não encontro. As pessoas atropelam-me nas esquinas, e não te reconheço em cada uma delas. Apenas achei, casualmente, o registo do teu beijo na montra de uma loja, o teu rosto delicado no meu ombro, um guarda-chuva vermelho e um riso apaixonante.
(Autor: Marta Conceição)

2 comentários:

Possivelmente Não disse...

Perfeito, perfeito e perfeito !

Adoro o teu estilo de escrita.
Parabéns, mais uma vez !

Wahine disse...

Muito bom texto mm

Gostei ;)